Projetos agroecológicos no Pontal do Paranapanema: a visão de agricultores assentados e o papel das políticas públicas

Retratos de assentamentos, vol. 22, nº 1, 2019, pp. 92-115.

Otávio Gadiani Ferrarini

Paulo Eduardo Moruzzi Marques

 

Resumo:

A implantação de arranjos produtivos agroecológicos em assentamentos rurais tem sido uma aposta de diferentes atores visando à construção de um modelo agrícola que consiga gerar renda ao agricultor, manter o equilíbrio ambiental e garantir a coesão social. O presente artigo apresenta as motivações, reflexões e críticas de agricultores engajados em projetos agroecológicos desenvolvidos em assentamentos rurais no Pontal do Paranapanema – SP. A metodologia utilizada na pesquisa baseou-se, sobretudo, na realização de entrevistas semiestruturadas com 11 agricultores assentados beneficiários de projetos agroecológicos. Entretanto, de maneira complementar, também foram entrevistados outros atores relevantes à pesquisa como os técnicos e coordenadores dos projetos, pesquisadores e lideranças do MST. Os resultados sugerem que os projetos conseguiram modificar a dinâmica de produção das famílias beneficiárias para sistemas produtivos mais ecológicos. Em termos de política pública, a pesquisa evidenciou que estas desempenham um papel contraditório no que diz respeito ao estímulo a sistemas agroecológicos.

Palavras chave: Agroecologia; Assentamentos Rurais; Sistemas Agroflorestais; Multifuncionalidade da Agricultura.

 

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A justiça ecológica em processos de reconfiguração do rural: estudo de casos de neorrurais no estado de São Paulo

Revista de Economia e Sociologia Rural, vol. 57, nº 3, 2019, pp. 490-503.

Morgane Retière

Paulo Eduardo Moruzzi Marques

 

Resumo:

Este artigo aborda a renovação das relações entre o urbano e o rural a partir de referências a uma justiça ecológica. Nossa análise, fundada sobre a teoria das justificações, considera as ações coletivas, os conflitos e as inovações em torno de três casos de retorno à terra: o bairro rural Demétria, a Cooperativa de Agricultores Familiares Agroecológicos (Cooperacra) e o assentamento Milton Santos, todos no estado de São Paulo. O desejo de residir em meio rural ou de desenvolver uma atividade agrícola orgânica favorece um novo olhar sobre a ruralidade e sobre o papel da agricultura, associado ao debate sobre o desenvolvimento sustentável. A teoria das justificações nos leva a identificar os princípios de justiça mobilizados por nossos interlocutores com vistas a legitimar suas ações. Como hipótese, admitimos a emergência de uma ordem ecológica de justiça, com contornos por vezes pouco definidos e, assim, permeável a outros conjuntos de pontos normativos para edificar um mundo justo. Nesta ótica, torna-se pertinente situar os argumentos de nossos interlocutores em relação a estas diferentes ordens de justiça, o que permite distinguir o caso do bairro Demétria daqueles da Cooperacra e do assentamento Milton Santos.

Palavras chave: Teoria das justificações; Ruralidades; Agroecologia; Desenvolvimento sustentável; Relações urbano-rurais.

 

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A perspectiva da soberania alimentar na exploração de redes de atores na França urbana e periurbana

Palestra de Pierre-Mathieu Le Bel, do National Research Institute of Science and Technology for Environment and Agriculture | IRSTEA · Department of Territories
13/11/2019, das 9:00h às 11:00h, no Pavilhão de Ciências Humanas da ESALQ/USP (localiza-se no início da Alameda Principal do campus)

3º Encontro de Pós-Doutorandos da USP

Apenas Pós-Doutorandos da USP devem fazer a inscrição. As inscrições devem ser realizadas pelos Pós-Doutorandos da USP até o dia 16/10/2019.

Demais interessados podem participar como ouvintes e, para isso, precisam apenas assinar a lista de presença na entrada do evento. Devido ao número de vagas, a apresentação de pôsteres, flash talks e a participação nas oficinas estão reservadas apenas ao Pós-Doutorandos da USP.

O 3º Encontro de Pós-Doutorandos da USP acontece no dia 06/11/19, das 09h00 às 14h30, no Centro de Difusão Internacional da USP (CDI – USP), localizado na Cidade Universitária – São Paulo.

Serão oferecidas três oficinas aos Pós-Doutorandos no período da tarde, das 14h30 às 18h30. As inscrições para as oficinas poderão ser realizadas no período da manhã.

Programação e descrição completa das oficinas

Dissertação – Agricultura familiar e promoção da saúde: um novo olhar para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)

Natália Gebrim Doria
(Mestra em Ecologia Aplicada)

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Resumo

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é uma importante ferramenta de política pública brasileira de combate à fome, de alcance da segurança alimentar e nutricional, de garantia do direito humano à alimentação adequada e de promoção do desenvolvimento rural. A partir da Lei no 11.947/ 2009, o PNAE passou a estar associado à abertura de mercado para os produtos da agricultura familiar. Esta lei determina que no mínimo 30% (trinta por cento) do total de recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) aos estados e municípios deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar, com a dispensa do processo licitatório. Deste encontro, da alimentação escolar com a agricultura familiar, emerge uma ótica favorável ao reconhecimento de que o agricultor familiar pode assumir responsabilidades sociais, ambientais e culturais, muito além da responsabilidade produtiva em torno da oferta de produtos alimentícios às escolas. A partir desta perspectiva, nossa hipótese admite que o agricultor familiar reconhece, em particular em razão de sua participação no PNAE, sua atuação enquanto agente social promotor de saúde. O objetivo da pesquisa foi analisar agriculturas familiares que abastecem escolas graças ao PNAE de modo a verificar em que medida se trata de uma atividade promotora de saúde, a partir da perspectiva de agricultores/as de duas cooperativas. O desenvolvimento da pesquisa se fundou em metodologia qualitativa em saúde. As duas cooperativas de agricultura familiar focalizadas foram, a Cooperacra, localizada no município de Americana/SP e a Coopamsp, localizada no município de São Pedro/SP. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com membros de suas diretorias e com agricultoras e agricultores cooperados. No total foram realizadas dezoito entrevistas, que foram gravadas, transcritas na integra e analisadas com base na metodologia de análise de conteúdo, sob o olhar dos referenciais da multifuncionalidade da agricultura e da promoção da saúde. A pesquisa evidenciou a importância do PNAE para a estruturação e fortalecimento das duas cooperativas, bem como para a reprodução socioeconômica das famílias cooperadas. O papel de promotores de saúde desempenhado pelos agricultores esteve especialmente vinculado à oferta de alimentos saudáveis aos escolares. Por alimentos saudáveis são compreendidos aqueles produzidos sem ou com o mínimo possível de agrotóxicos, frescos e produzidos localmente. Os agricultores também reconheceram o papel que desempenham na promoção da segurança alimentar e nutricional dos escolares e da sociedade de forma geral. Ademais, uma relação harmoniosa com a natureza e o cuidado com o meio ambiente também estiveram vinculados a maneiras de promover saúde, sendo identificados como funções sociais desempenhadas pelos agricultores. Concluímos que, para que o agricultor possa ser reconhecido enquanto agente promotor de saúde, é preciso primeiramente fortalecê-lo em sua atuação no meio rural. O reconhecimento político pelo PNAE favorece então uma atuação multifuncional de agricultores familiares. Portanto, o investimento em programas e políticas públicas voltadas às questões como a reforma agrária, o acesso ao crédito rural, a comercialização dos produtos agrícolas oriundos da agricultura familiar e a produção de alimentos ambiental, social e economicamente mais sustentáveis (como no caso da perspectiva agroecológica) constituem meios de melhorar a saúde da população brasileira.

Palavras-chave: Agricultura familiar, Alimentação escolar, Determinantes sociais de saúde, Multifuncionalidade da agricultura, Promoção da saúde